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Junho de 2013, 10 dez anos depois: Mayara Vivian saiu do MPL, mas não deixou de militar nem no Chile; ‘A gente precisa falar de política’

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Ex-integrante do Movimento Passe Livre (MPL), geógrafa de 33 anos defende êxito da pauta: baixar a tarifa e, em seguida, o passe livre estudantil para alunos da rede pública em SP.

Junho de 2013, São Paulo. Mayara vê fotos sendo capturadas na noite do ato do dia 6. “Tomara que seja esta foto”, pensa, sobre as catracas de papel pegando fogo. As coisas acontecem como o planejado, tem a sensação de que fez tudo certo. Olha para trás e não vê nenhum jornalista. No outro dia de manhã, era exatamente a foto das catracas que estava em capas de jornais.

Junho de 2023, São Paulo. “Pode colocar aí que ninguém do MPL se candidatou e que ninguém recebeu dinheiro da CIA. Eu entrei pobre e continuei pobre”, diz a geógrafa Mayara Vivian, de 33 anos, ex-integrante do Movimento Passe Livre (MPL).

Ela gosta de repetir a palavra “ideias” e evita o “eu” com pequenas interrupções: “Eu não, ‘a gente’”. Solícita, conversou com o g1 às 22h num espaço que arranjou na agenda que marca os 10 anos das jornadas de junho. “Naquela época, no auge de 2013, a gente não tinha tempo porque era muita demanda do próprio movimento. Agora é correria por trabalho”, conta.

Sua atitude quanto à personalização de pautas políticas não mudou. Evita ao máximo falar de si. “A gente precisa falar de política neste país. Parar de achar que é a Regina Duarte, que é um cantor de boy band. Isso esvazia o conteúdo das coisas, acaba em baixaria ou fofoca.” Na época, Mayara foi chamada por um colunista de “heroína do populacho”. Hoje até acha graça.

Após 2020, já fora do MPL, morou dois anos no Chile, onde se aproximou do No + AFP, campanha por um sistema de previdência público. “Eu fui viver nas montanhas, no Cajón del Maipo, mas aí onde a gente está a gente milita, não dá para ficar parado.”

“Na real, o tema da mobilidade e sustentabilidade só cresceu no mundo nos últimos anos. O fato de o movimento voltar à pauta em São Paulo também tem a ver com a urgência de a classe trabalhadora existir na cidade.”

De imediato, afastou qualquer implicação do MPL com movimentos de direita que apareceram nas ruas em 2013. “Teve uma ascensão do nazifascismo no mundo inteiro e não foi o Passe Livre que inventou isso.”

“Acho muito incoerente, muito delicado para o atual momento político, as pessoas quererem colocar um movimento social, que luta por direito à cidade, como bode expiatório. Nosso movimento tinha um recorte muito claro.”

E deixa seu recado: “Não fomos nós que elegemos o Trump e colocamos o Temer como vice.”

Sobre o legado de 2013, destaca a ampliação do debate e interesse na tarifa zero e o direito à cidade. “Agora, dez anos depois, a gente vê a tarifa zero cogitada pelo próprio poder público em São Paulo. É óbvio que esse sintoma não é só de 2013, mas de um movimento social que existe há 18 anos. E também de outras figuras”, diz. Mayara destaca o nome de Lucio Gregori, ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo na gestão de Luiza Erundina: “O primeiro cara a propor tarifa zero em São Paulo”.

Para ela, o MPL cumpriu sua pauta: baixar a tarifa e, em seguida, o passe livre estudantil para alunos da rede pública em São Paulo.

As jornadas de junho também foram cercadas de informações falsas. A direita falava que o MPL era um braço do PT. E apoiadores do PT falavam que integrantes do MPL eram apoiados pela CIA – agência de inteligência do governo dos Estados Unidos. A superexposição em 2013 também comprometeu carreiras profissionais, e ex-membros do movimento disseram ao g1 que também enfrentaram depressão.

Alguns ex-integrantes acabaram se dedicando a defender territórios indígenas, outros, a movimentos pela reforma agrária e por moradia.

Ao g1, Mayara defendeu que a tarifa zero seria o caminho para reduzir a poluição, aumentar a segurança – quanto mais pessoas circulam, mais seguras as cidades ficam – e diminuir a desigualdade social.

“O que a gente gosta de falar mais é da tarifa zero que está voltando à tona.”
Dez anos depois, ela mantém um discurso crítico ao empresariado que controla o transporte. “Não se tem clareza dos custos da operação, da forma como funciona, da lógica como mercadoria para gerar lucro. É um nicho de mercado que não é visto como um direito social.”

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