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Calote de R$ 30 milhões do Campo Oeste foi premeditado

ByReporter sp

mar 12, 2009
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Dossiê montado pela Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) revela que os sócios do frigorífico Campo Oeste, em Campo Grande, realmente usaram a empresa para lavar dinheiro, através de sonegação de impostos e não pagamento a produtores, desde o início de suas atividades, em 2 de dezembro de 1999.

A delegada responsável pelo caso pede quebras de sigilos telefônico e bancário, além da prisão preventiva de Alberto Pedro da Silva, apontado como mentor do esquema, além de Alberto Pedro da Silva Filho, Duilio Vetorazzo, Mário Antonio Guzilini, Anástacio Cândia Filho, Reginaldo da Silva Maia, Sebastião da Silva dos Santos.

Os pedidos foram encaminhados ao promotor Gilberto Robalinho da Silva.

Com uma dívida estimada em R$ 30.150.000,00, o frigorífico fechou suas portas no dia 4 de setembro do ano passado, ao conceder férias coletivas a 410 funcionários e suspender os abates.

Antes disso, em junho, dois dos principais sócios do frigorífico, que moram fora do Estado, vieram à Capital e sem comunicar nenhum fazendeiro ou corretor de gado, fizeram uma limpeza no patrimônio da empresa.

Na ocasião, todos os bens móveis, bem como caminhões e carros foram subtraídos na ‘calada da noite’ por Alberto Pedro da Silva Filho, conhecido como Beto Beleza e Mário Antonio Guizilini. Não contentes, os dois ainda levaram todo o gado adquirido por Mário à Expogrande de 2008, que pagou apenas duas de várias parcelas.

Em 2002, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) realizou uma auditoria no frigorífico e comprovou os nomes dos verdadeiros sócios, além de constatar uma dívida de R$ 4 milhões ao Funrural (Fundo de Assistência e Previdência do Trabalhador Rural).

O frigorífico foi registrado em nome dos ‘laranjas’ Manoel Marques da Silva, residente em Maracaju e Sebastião Silva dos Santos, que mora em Bodoquena. Informações no dossiê mostram que os dois trabalhadores não têm condições de administrar uma empresa de grande porte como um frigorífico, afinal, são semi-analfabetos e se expressam com certa dificuldade.

Em 2006, com a pressão do INSS acirrada em cima dos laranjas, os verdadeiros sócios decidiram mudar o contrato social do frigorífico, entrando Mario Antonio Guizilini e José Luiz da Rocha. Por ironia do destino, em 2007 José Luiz morreu em um acidente, contudo o contrato da sociedade não foi alterado; a empresa chegou a trabalhar um ano sem fazer o inventário.

Como de costume, sempre às escondidas, em agosto de 2008 o contrato social foi alterado e José Luiz cedeu lugar a Anastácio Cândia Filho. Aí o estrago já tinha sido feito, pois a falência da empresa era certa, ainda mais depois de um relatório da receita federal de Araçatuba (SP), que concluiu que Alberto Pedro da Silva Filho e Duílio Vetorazzo Filho eram os reais proprietários do frigorífico.

Foram constatadas que as assinaturas de ambos eram idênticas a de seus pais, que também se envolveram indiretamente na negociata e na lavagem de dinheiro. Também foram comprovadas as saídas de dinheiro do Campo Oeste para parentes de Duílio, ou seja, parte do pouco dinheiro arrecadado e que poderia pagar os salários de funcionários foi transferido para a família de um dos sócios.

Mas devido a uma briga ocorrida em 2007, entre Duílio e Beto Beleza, o primeiro saiu da sociedade. Ao sair da empresa, Duílio faz mais um rombo: retira 5 cheques pré-datados do caixa do frigorífico para descontar em um factoring (atividade comercial, mista e atípica, que soma prestação de serviços à compra de ativos financeiros) no valor de R$ 312,5 mil, emitidos em 21 de dezembro de 2007.

Em 2004, porém, em meio aos problemas já sabidos pelos sócios do frigorífico e com a crise já instalada, os principais diretores resolveram abrir um novo frigorífico em Camapuã, conseguindo até mesmo a cedência de um terreno pela prefeitura.

Em uma operação “um tanto quanto duvidosa”, avalia a Famasul, logo eles conseguem realizar a transferência da sede do novo frigorífico para a cidade de Guararapes, interior de São Paulo, com o intuito de driblar o fisco.

Contudo, os problemas relacionados ao Campo Oeste começaram a surgir, o que dificultou que Beto Beleza conseguisse financiamento para operar a Dualfrigo, novo empreendimento.

Foi aí que o terreno teve de ser devolvido à prefeitura e o projeto acabou abortado. No entanto, apesar de todo esse malabarismo, no dossiê consta que a transferência para Guararapes foi feita e na cidade funciona até hoje um frigorífico.

Enquanto os 410 funcionários que estão até hoje sem receber os seus respectivos salários enfrentam dias difíceis, os empresários sócios do Campo Oeste conseguiram acumular bens, que estão registrados em nomes de esposas, sogros, sogras, pais e irmãos, tudo para driblar os credores.

Alberto Pedro da Silva Filho, o Beto Beleza, é dono de fazendas em Mato Grosso e São Paulo e seu nome está ligado ao frigorífico de Guararapes. Duílio é proprietário de uma fazenda em Porto Murtinho, de um comércio de móveis em Campo Grande e pode estar abrindo um novo frigorífico na Capital.

Mario Antonio Guizilini é comprador e vendedor de carnes em São Paulo e arrendatário de um posto de gasolina localizado próximo ao aeroporto de Campo Grande.

O dossiê revela suspeitas até mesmo de bancos como o Bradesco estarem envolvidos em toda a ‘sujeira’, já que um dos pontos duvidosos é a quantia de 156 cheques que foram sustados pelo respectivo banco quando decretada a falência do empreendimento.

Esse procedimento pode ser configurado, segundo o dossiê, como fraudulento já que os maus pagadores podem ter sido acobertados e com isso seus nomes não foram incluídos no CCF (Cadastro de Cheques sem Fundo) do banco central, o que gerou uma cadeia de prejuízos.

Elaborado pelo assessor jurídico da Famasul, Gervásio de Oliveira Júnior, no dossiê estão explícitos, mediante documentos anexados, pelo menos três tipos de crime: estelionato, formação de quadrilha e falsidade ideológica.

Na análise da Famasul, fica evidente que os sócios do Campo Oeste premeditaram o calote, pois em meio a infindáveis crises milionárias, continuaram comercializando seus produtos e enganando credores.

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